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quinta-feira, 25 de março de 2010

O SUAVE CANTO DO PATATIVA




Cum a benção do nosso Sinhô
Ainda mi alembro seu dotô
Do tempo di minha mocidade,
Antes di mudá cá pa cidade
Antes mermo do sol raiá,
Tirava os gado do currá
Dez cabeça era o qui eu tinha
E tamém cinco cabrinha
Pa mode eu pudê trabaiá.
Lá, cum chuva, si prantano, tudo dá.


Mais a vida do sertanejo é sufrida
Si farta chuva, trabai e cumida,
Sua única saída é ter qui si mudá.
Lá distante, sua terra dexá,
E vim sofrê nas banda da capitá,
Chega aqui vai mora na favela
Sem ter nem o fejão na panela
Ele só pensa pa sua terra vortá.
Cum honestidade, dexá cá a cidade
Pru quê homi qui é homi num sabe robá.


Mais nosso Sinhô é bondoso,
Incrontei um homi caridoso
Qui mi arranjo oni trabaiá
Eu faço massa de cimento
Pa mode os prédio alevantá
Mais o céu já ta cinzento
E pa todo meu trumento,
A chuva vem me atrapaiá.
Pois fazer parede chuveno
Os prédio pode disabá


Intão, vorto pa casa cedo
Rezano, cum muito medo
Di vê o barraco inundá,
Pois nem mermo sei nadá.
Na cidade é tudo diferente
A chuva num dexa contente
Quem precisa trabaiá
Encho os meu zoio d’água
E o coração cum muita mágua
Di num pudê pru sertão vortá.

(Homenagem a Antônio Gonçalves da Silva, o Patati-va do Assaré)

Um comentário:

  1. ...Excelente, esse cordel. Patativa mostrou que a cultura popular, essa produzida pelo homem "natural", sem vaidade intelectual, pode vir a ser de imenso valor e assumir profunda qualidade.É preciso um canto, um poema, uma literatura que possa expressar os medos, as lidas, as veredas do homem comum, do nordestino, do cabloco. Patativa fez. Patativa expressou. Patativa, em suma, mostrou o homem nordestino; todavia mostrou bem mais, mostrou as lidas e as passagens do homem em geral. Mas fez isso com uma linguagem tao intima e original que Patativa pode ser visto como o proprio nordeste versificado. Bom texto, excelente homenagem.

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Funcionário público, historiador, chargista, pintor e poeta. Na verdade, aprendiz de um mundo absolutamente versátil.